terça-feira, 21 de julho de 2009

A cura cirúrgica para os danos da maternidade


O que antes era a expressão da própria natureza, hoje, é considerado deformidade. Assim estão sendo vendidas as cirurgias plásticas para o pós-parto. A conduta é fruto de padrões irredutíveis de beleza, da tecnologia e da cultura pop, uma combinação que trata as mudanças biológicas como se fossem tão substituíveis quanto a cor do cabelo... Revistas de fofoca, nos Estados Unidos e no Brasil, não perdoam as “mães celebridades” que não perdem imediatamente o "peso do bebê". Agora, as mulheres “devem lutar” contra o impacto do envelhecimento e da gravidez. “O marketing do mommy makeover tenta transformar em patologia o corpo feminino no pós-parto, caracterizando a gravidez e o parto como enfermidades com efeitos desfigurantes que podem ser consertados com a ajuda de bisturis e cânulas. A mensagem central da venda deste tipo de serviço é que, depois de ter filhos, o corpo da mulher muda para pior”, observa o cirurgião plástico Ruben Penteado, diretor do Centro de Medicina Integrada, em São Paulo.Destinadas às mães, em geral, as cirurgias são oferecidas em pacotes de três: “uma levantada nos seios” com ou sem implantes de silicone, redução da barriga e lipoaspiração. Os procedimentos têm o objetivo de diminuir a flacidez da pele e reduzir as estrias e a gordura adquiridas na gravidez. Nos Estados Unidos, este tipo de cirurgia, segundo dados da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, registrou um aumento entre mulheres em idade reprodutiva. Só em 2006, médicos em todos os EUA realizaram mais de 325 mil procedimentos mommy makeover em mulheres de idade entre 20 e 39 anos, um aumento de 11% em relação a 2005, segundo a entidade.“Na verdade, cada mulher reage de uma forma à gravidez. Idade e genética influenciam o modo como o corpo se recupera. Algumas mulheres ficam com estrias devido à gravidez ou ao ganho de peso. Algumas mulheres voltam a ter uma barriga lisinha e outras não, algumas retomam o peso que tinham antes de ter filho e outras não. Mas não há anormalidade intrínseca aos seios ou ao abdômen”, defende Ruben Penteado, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

NÃO É NECESSIDADE OU OBRIGAÇÃO
O médico também esclarece que não há a necessidade ou a obrigatoriedade de se submeter a uma plástica após o parto. E somente depois de um ano após o parto, é recomendável a realização de qualquer procedimento estético. “Qualquer cirurgia exige cuidados e durante o pós-operatório a mulher ficará com os movimentos limitados. Ela não poderá realizar atividades simples como carregar, amamentar ou dar banho no bebê. É preciso colocar na balança se este tipo de distanciamento do filho vale a pena”, pondera Penteado.Se a decisão da mulher for a de fazer a plástica, o médico não recomenda a sua realização no período de amamentação. “Os anestésicos utilizados podem passar para o leite materno, prejudicando o desenvolvimento e a disposição do bebê. O ideal é se submeter a qualquer tipo de intervenção apenas seis meses depois de terminar o período de amamentação”, recomenda.Segundo Ruben Penteado, as novas mamães querem recuperar os antigos contornos próximos do abdômen e a firmeza das mamas.

A lipoaspiração, a abdominoplastia (cirurgias de abdômen) e a mastopexia (cirurgia para levantar as mamas) ocupam os primeiros lugares no ranking de desejos destas mulheres. “É muito importante esclarecer que a abdominoplastia não pode ser feita logo após a cesárea. No pós-parto, a mulher ainda sofre os efeitos da gestação: alterações hormonais, flacidez da pele, excesso de peso, inchaço. Como o contorno do corpo fica distorcido, o cirurgião plástico não consegue identificar o quanto do abdômen precisa realmente ser reduzido”, explica Ruben Penteado. Ou seja: nesse caso, os riscos do resultado da plástica não sair como o esperado são grandes.Ainda sobre a abdominoplastia, Ruben Penteado esclarece que é possível fazer a cirurgia utilizando parcialmente a cicatriz da cesariana. “Frequentemente, quando a cicatriz da cesariana está na sua localização habitual – na parte inferior da barriga –, podemos aproveitá-la. Lembrando que a cicatriz não deixará de existir, mas poderá ficar do mesmo tamanho ou um pouco maior”, diz o médico.Caso a mulher faça uma abdominoplastia, a cirurgia não prejudica uma posterior gestação. “Muita gente acha que após a abdominoplastia os músculos são ‘amarrados’ e a barriga nunca mais irá crescer.
Isso não acontece.
O único problema de engravidar após a abdominoplastia é que a mulher poderá perderá os resultados da cirurgia”, explica Penteado, membro titular a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.Diante deste um impasse estético atual, “procuramos aconselhar esta mulher. Destacamos que neste período da vida, ela deve ter sua atenção e energias voltadas para uma pronta recuperação do parto, assim ela poderá se dedicar aos cuidados com o bebê e consigo mesma. Procedimentos estéticos que comprometam este ciclo da vida podem nem devem ser cogitados”, defende Ruben Penteado.